Quando um jogador entra em campo, poucas pessoas sabem realmente o que aconteceu para que ele tenha as condições para estar ali. Desde as questões físicas e fisiológicas, problemas médicos, financeiros e psicológicos interferem no dia-a-dia de uma atleta e são cruciais para o seu bom ou mau rendimento. Assim, jogo a jogo, o futebol vai escrevendo as suas histórias e a maioria delas passam sem que ninguém saiba. Vez por outra, estas histórias se tornam públicas e o jogador de futebol volta a ser lembrado como ser humano.
No caso do Botafogo, Túlio Souza foi o nome da vez. Reconhecidamente talentoso, o meia teve problemas médicos que o fizeram permanecer um longo tempo fora dos campos. Ontem, ao marcar o gol da vitória sobre o Madureira, Túlio se tornou herói e pôde, finalmente, chegar ao objetivo final de sua luta, ajudar o Botafogo. Momento comemorado com muita intensidade e de todas as formas, emoção, raiva e alegria. Túlio botou pra fora toda a angústia de quem teve uma doença rara e lutava para poder exercer a sua profissão. A volta aos gramados representou um agradecimento ao departamento médico do Botafogo, principal companheiro do jogador durante todo esse tempo.
O Botafogo é como um pai, pois me acolheu e me curou. Fez tudo por mim e por isso devo muito ao clube. Todos tiveram paciência comigo, principalmente médicos e fisioterapeutas. Tanto que depois do gol que marquei, abracei um dos doutores e dei minha camisa, afirmou Túlio, que, em 2008 sofreu cirurgia para se curar de uma rara lesão, a síndrome de Guilmore. (Dor no púbis associada a uma hérnia inguinal).
Agradecido pelas palavras, o chefe do departamento médico do clube, Luis Fernando Medeiros, procurou ressaltar o profissionalismo e a força de vontade do jogador. Com uma convivência diária e intensa, não havia como nós médicos não desenvolvermos uma amizade com o Túlio. Dizíamos que ele ainda faria um gol de título para o Botafogo. Por isso vibramos muito quando ele marcou. Trabalhamos juntos, mas o mérito é todo do jogador, que foi persistente e disciplinado. Não chegou atrasado a nenhum treino, disse.